Escolher um clássico
A ponderação é uma arma fraca contra a paixão. Mas é essencial para se começar com o pé direito numa relação frutuosa com um automóvel clássico.
A precipitação é, pois, o principal erro do entusiasta de Clássicos em início de carreira.
Aqui ficam seis perguntas fundamentais para cada entusiasta. Quando tiver as respostas, está pronto para passar à próxima fase: a de materializar o seu desejo de ter um automóvel clássico.
Um clássico, para quê?
A utilização a dar ao automóvel é decisiva para a sua aquisição. De um clássico relativamente moderno e prático para usar todos os dias, a um automóvel de competição para as corridas de fim-de-semana, ou um Vintage para as regularidades históricas, as opções podem ser tão diferentes como a água do vinho ou gasolina do gasóleo…
Se pretende dar-lhe uma utilização familiar, pense num automóvel que possa transportar todos os membros da família.
Assegure-se que vai conseguir viver com os defeitos da sua nova aquisição, porque nunca serão pouco, quando comparados com qualquer automóvel moderno.
Reúna tanta informação quanto possível acerca do automóvel que pretende comprar. Vai ser-lhe muito útil para as decisões que tem de tomar.
Quanto posso gastar?
O orçamento condiciona a escolha. Por vezes, sacrificando um pouco a imagem de um determinado modelo, pode conseguir praticamente o mesmo automóvel, por um preço inferior. Dois exemplos: o Jaguar E 2+2 vale pouco mais de metade de um coupé de dois lugares, mas a diferença real em termos de utilização é pequena; O Lotus Elan 2+2 é igualmente eficaz, mais prático, mas muito menos valioso do que a versão de dois lugares.
No orçamento disponível para a aquisição, deve existir sempre uma reserva para despesas supervenientes de manutenção ou reparação. Deixe de lado pelo menos 20% para este tipo de despesas.
Restaurar ou não restaurar?
A regra de ouro é: comprar o automóvel no melhor estado possível, de acordo com o orçamento disponível. Mas o restauro pode ser uma actividade francamente compensadora. Em termos espirituais…
As vantagens do restauro são: o facto de ser um hobby interessante; dependendo do seu talento, pode conseguir poupar algum dinheiro – fazendo trabalhos que não precisam de ser entregues a um profissional; ficar a conhecer o seu automóvel por dentro e por fora, criando também uma relação de proximidade maior.
Do outro lado da balança, temos: o facto de o restauro raramente compensar em termos comerciais – é muito fácil gastar mais dinheiro do que aquele que o mercado está disposto a pagar pelo automóvel; e ter de ficar à espera para poder usufruir do seu Clássico na estrada
Quem me pode ajudar?
Esta é fácil: pessoas que tenham tido ou tenham os mesmos problemas. Aqui, os clubes têm um papel fundamental. As pessoas que os constituem têm em comum a dedicação ao mesmo fim. Partilhar experiências, beneficiando até dos erros que outros cometeram antes de si, pode poupar muitos aborrecimentos e tempo. O ideal é associar-se antes de comprar um carro. Assim, terá quem o ajude também nessa fase fulcral.
Vou conseguir peças?
Quase tudo é possível. Mesmo as peças que não existem podem ser fabricadas especialmente. Mas o preço não vai ser uma agradável surpresa. Para os automóveis mais comuns, não haverá grandes dificuldades, com muitos especialistas a fazerem dessa actividade o seu negócio. Quanto a especialistas internacionais, pode contactá-los directamente – não há motivo para as peças demorarem mais do que uma semana a chegar – ou utilizar um intermediário, que se responsabilize pela qualidade e precisão (modelo, referência) da peça encomendada. Há vantagens nos dois formatos.
Texto de Adelino Dinis, originalmente publicado no Guia Vintage de Veículos Clássicos de 2006 e 2007